quinta-feira, 16 de abril de 2015

Envelhecer com dignidade

Esta semana fiquei duas noites e dois dias sem dormir. Apesar de ter sido efeito colateral de uma medicação, estranhei muito.

Não, não estranhei o fato de ter ficado esse tempo sem dormir nada. Estranhei a minha reação, o estado em que fiquei depois disso. Fiquei acabada! Parecia um zumbi, atordoada, zonza, sem conseguir coordenar corretamente ações e pensamentos. Logo eu que desde a adolescência até meus 20 e poucos anos varava noites numa boa, sem sentir nada de ruim.

Fui ao espelho, olhei a raiz dos meus cabelos. Ali elas estavam, branquinhas me encarando.
- Preciso pintar meus cabelos de novo. E já não posso mais esperar tanto entre uma pintura e outra.

Aproveitei que estava em frente ao espelho e comecei a olhar o meu rosto mais de perto.
- Espera... Essa ruga não existia. E essa marca de expressão aqui, como está funda! E minha pele, está fazendo uns desenhos estranhos nas bochechas, parece que os poros estão todos seguindo um mesmo padrão de desenho, que estranho... Meu nariz aumentou, não era assim, era mais fino na ponta. Meu olhar está um pouco mais caído. Opa! E essas manchinhas aqui? Elas não estavam aqui ano passado!

A saúde... Bom, essa merecia um capítulo à parte. O corpo já não acompanha mais a loucura do meu coração e de minha mente. Por mim já fui, já fiz mil coisas.
- Bóra corpo, vamos!!!
Que nada. Olha ele ali, deitado, cheio de dores aqui e ali, pedindo um arrego.

Outro dia recebi visitas aqui em casa. Um grupo de pessoas bem humoradas, "tudo gente fina". Daqui a pouco a conversa foi pra aquele lado estranho:
- Então, mas a dor que eu sinto aqui é demais, já tomei isso, aquilo e aquilo outro, mas nada resolve.
- Eu não tenho dor aí não, mas aqui é demais, eu travo quando me levanto da cama.
- Nossa, sei como é isso, além de travar também tenho problema nos ligamentos do joelho esquerdo...

Lembra quando você era pequeno e via as suas tias conversando sobre doenças e remédios? Mais ou menos isso, mas com uma diferença: quem estava ali na sala era eu.

Me peguei outro dia dizendo:
- Ah, mas no meu tempo é que era bom!
Meu Deus... eu falei a frase fatídica! Eu falei a frase que entrega a situação toda.

A verdade é nua, crua e dura. Eu estou envelhecendo.


Que loucura! Não tenho como expressar meus sentimentos a não ser dizendo QUE LOUCURA. Passou assim, num piscar de olhos. Quando vi já foi, já chegou, já era. Olho pra trás e penso:
- Gente! Mas como assim???

Aqui estou eu, com os meus quarenta e poucos anos. E pensa que dá pra relaxar? Não, não dá... Antes as senhoras de 40 anos se vestiam com vestidos floridos, cabelos curtos encaracolados, tamanquinho nos pés, óculos de aro grosso, tava tudo certo, tranquilo. Mas hoje... Parecem meninas de 25 querendo aparentar 18, uma corrida pelo corpo perfeito, pela pele perfeita, pelo cabelo perfeito.

- Mas gente! Isso não eram coisas das quais nos preocupávamos na adolescência? Não era pra gente estar de bem com a vida agora, cuidando do corpo sem neura?

Pois é.
Vai lá ver a velhinha de 75 anos, dá uma olhada como ela está. Parece que tem 40.

Então eu penso.... O que realmente importa?

Importa ser uma boa pessoa. Ser boa mãe, boa esposa, boa amiga, boa filha, boa irmã. Cuidar da aparência sem neura. Não correr atrás da juventude perdida, mas permanecer da melhor maneira possível dentro de sua idade. Aceitar as limitações. Não se conformar com o que pode ser mudado. Continuar sonhando e fazendo planos. Viver novidades, se aventurar. Ser útil. Fazer o bem. Envelhecer com dignidade.

E conforme os anos forem passando e as mudanças forem aumentando, sorrir.

Sorrir com a vida, com os acontecimentos, vivendo tudo intensamente, louvando a Deus por mais um ano de vida.

Sorrir pra que lá na frente, quando os passinhos estiverem curtos, as mãos estiverem trêmulas, a memória estiver falha, o olhar estiver embaçado e a voz estiver fraca, a vida tenha valido a pena.

De verdade.